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sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


        No Brasil ainda são poucos os estudos em sociologia da música.Alguns fenômenos musicais no Brasil remetem ao uso da música para entretenimento.É o caso da música sertaneja, que contém os traços culturais da cultura caipira.O homem rural paulista,por exemplo, é pesquisado por Martins ( 1975)  na qual evidência a importância da análise sociológica a partir do ponto de vista da música.


Nesse estudo, o autor analisa as letras e o ritmo.Apresenta a diferença entre a música caipira e sertaneja, a primeira, ligada as festividades nas comunidades rurais em São Paulo, a segunda, as relações sociais dos imigrantes rurais na cidade que fundem os ritmos rurais com o urbano.Esse fenômeno se promoveu devido ao êxodo rural.Recente processo histórico brasileiro que forçou as populações rurais a vivência na cidade.


 No campo da sociologia francesa  Bourdieu (2007) considera que o espaço social estudado deve estar à disposição de espírito. O mundo da música, segundo o autor, expressa o mundo social no qual se está inserido, e se expressa ainda, na linguagem da interioridade e exterioriza-se, apresentando o contexto de uma realidade social que configura sua elaboração, e também, o contexto social que será interpretado por seu operador – músico:

 “... A música é a mais espiritualista das artes do espírito; além disso, o amor pela música é uma garantia de “espiritualidade”. Basta pensar no valor extraordinário conferido, atualmente, ao léxico da “escura” pelas versões secularizadas (por exemplo, psicanalíticas) da linguagem religiosa. Conforme é testemunho por inumeráveis variações sobre a alma da música e a música da alma, a música está estreitamente relacionada com a “interioridade”(“música interior”)mais “profunda” e os concertos só podem ser espirituais... A música é a arte “pura” por excelência: ela nada diz, nem tem nada para dizer, como nunca teve uma verdadeira função expressiva[...] (Bourdieu,2007, p. 24).
O autor clássico  da Sociologia Max Weber, famoso pelo desenvolvimento da teoria da racionalização e burocratização do Estado, pouco é lembrado ou contemplado em currículos universitários sobre o estudo da sociologia da música. Eis o relevante estudo do autor -
Livro Fundamentos Racionais e Sociológicos da Música (tradução brasileira) na passagem de Habermas, a explicação de Weber sobre a relação música, arte e religião:



 “... A racionalização cultural é vista por Weber á partir da ciência e técnica modernas, da arte autônoma e da ética guiada por princípios fundados na religião. Não apenas a ciência, mas também a arte autônoma são incluídas como manifestações da racionalização cultural. Os padrões de expressão estilizados artisticamente, que de início foram integrados aos cultos religiosos como adornos de igrejas e templos, como dança e canto rituais, como encenação de episódios, significativos de textos sagrados ,tornam-se autônomos com as condições da produção artística inicialmente cortesã – mecenática, mais tarde capitalista burguesa: “A arte constitui-se então como um cosmo de valores intrínsecos sempre conscientes ,abrangentes, autônomos.[...] (Weber,1995.p.09)

A interpretação de Weber, realizada por Habermas, exemplifica o que está implícito nas festas religiosas ocidentais, como o elemento operador que expressa os sentimentos das culturas, as quais se usam da música para transmitir a sua crença. Weber realiza com o estudo da Sociologia da Música a aproximação com outros estudos que são mais popularizados, como por exemplo, com a Sociologia da Religião, colocada neste estudo sobre a música na posição da Sociologia da Arte e de suas expressões culturais, as quais metamorfoseiam as interpretações, ligando-as umas às outras.
O Sociólogo Adorno, sobre as apresentações do teatro e da dança, critica o estado da música que se verbaliza no universo social de espetáculos musicais, os quais promovem o consumo da cultura através dos meios de exploração, onde o objetivo é o lucro. Não há preocupação com a verdadeira expressão ou movimento colocado na música. 


“... A mercadoria é em primeira instância um objeto externo, uma coisa que, por suas necessidades humanas é de qualquer espécie. A natureza de tais necessidades- se estas provêm, por exemplo, do estômago ou da fantasia – não altera este fato em nada... A constatação chega a ser cruel: no capitalismo, apenas não se paga para respirar! E a própria música inexoravelmente submeter-se-á, á sua condição de mercadoria: quanto mais elaborada, menos procurada. Também disto tinha plena consciência Berio: “A música não escapa ás leis de mercado”. E nisto baseia-se, em suma, toda a Sociologia da Música desenvolvida, com todas as nuances dialéticas, pela atenta e aguda crítica Adorniana”. [...] ( Adorno,2011, p.16).

Adorno apresenta a sociologia da música pelo viés da massificação e da desconstrução das identidades regionais, seja pela oferta de mercado da música em um contexto onde as relações sociais devem ser ligeiras e superficiais, seja pela repetição das letras em um contexto urbano prezado pela rotina. Tais relações ligeiras estão inclusive expressas no tempo da música e em sua elaboração. As letras também expressam esse universo sociológico, ou pela expressão do movimento harmônico do trânsito, das fábricas, ou mesmo do condicionamento do corpo a repetir as mesmas tarefas diárias de forma rápida, ágil, pois, tempo é dinheiro, como diria uma famosa sabedoria popular enraizada da lógica mercantil.

A não elaboração da música de longo tempo de duração está relacionada ao mercado do consumo, à negação da música elaborada por outra rápida e superficial, música comercializada como produto a ser desenvolvido segundo as leis do mercado:

“... Em uma Sociedade com predominância do Fast-food, o tempo dessas elaborações encontra-se essencialmente deslocado, imbuído tais produtos excêntricos, disforme e não condizente com as necessidades triviais do consumo imediato, distanciando-se da superficialidade dos bens de consumo de massa [...]”. (Introdução Adorno p.17).


Na obra  A vida de Mozart: Estudo Sociológico da Sociedade de Corte em Norberto Elias trata da sociedade de corte sob o viés do estudo da vida do compositor de música clássica Mozart, cuja obra musical está inserida em determinado contexto, como diria Bourdieu, no habitus que contextualiza a música no espaço social, que considera que a obra ou a boa música segue padrões dominantes de classificação musical e que seria essa a melhor música:



“Obra musical mais prezada na escala de valores da sociedade da corte era a ópera. Em conformidade com tal valorização social, compor óperas tinha para Mozart o valor emocional da mais alta realização pessoal. Porém institucionalmente, uma ópera, com a imensa despensa que acarretava, estava atrelada quase exclusivamente ás cortes-era diferente de uma peça, por exemplo, que poderia ser encenada por uma companhia ambulante de atores”. [...] (Elias, p.36).


Mozart, segundo a descrição de Elias, demonstra que o valor social dado à música da sociedade de corte se contempla com seu valor emocional elitizado de bela música, porém considera que a música vai além de um valor social, que ela expressa o sentimento que se transmite em seu valor de arte pela arte, sem fins de distinguir qual é a melhor música.

Elias, neste estudo sociológico da vida de Mozart ventila os detalhes de uma sociedade que preza os bons costumes e padrões de elite. Elite, que quer essa expressão de requinte na música, fazendo com que o músico adapta-se a essa exigência, caso contrário, será excluído de sua convivência e fadado ao chamado fracasso musical pela sociedade de corte.

Diante do exposto, recomenda-se essas leituras e aprofundamento teórico para cientistas sociais e os operados musicais para refletirem sobre o campo de atuação.A música é mais que um conjunto de sons e suas tecnicalidades, ela apresenta as particularidades essenciais de um povo.Basta um Sociólogo da música desvendar os significados sociais impressos nas letras musicalizadas.

Referências:
Adorno, Theodor W. Introdução á Sociologia da Música : doze preleções teóricas/ Theodor W.Adorno; Tradução Fernando R. de Moraes Barros.- São Paulo: Editora UNESP , 2011.p16,17.
Bordieu, Pierre. A Distinção: Crítica social do julgamento.Tradução Daniel Kern. São Paulo: Edusp .Porto Alegre, RS: Zouk,2007.p.24,27,162,240.
Candido Antonio. Os Parceiros de rio Bonito. Estudo sobre o Caipira Paulista e a Transformação dos seus meios de vida.p21,23.
Elias, Norbert .Mozart ,Sociologia de um Gênio. Organizado por Michael Schoter. Tradução: Sergio De Paula. Revisão técnica ,Renato Janine Ribeiro – Rio de Janeiro. JorgeZahar.Ed1995. p.36.
Martins, José de Sousa, Capitalismo e Tradicionalismo : estudos sobre contradições da sociedade agrária no Brasil. São Paulo.Pioneira,1975.CapVIII Música Sertaneja na Linguagem dos Humilhados.p.103.
Weber , Max. Os Fundamentos Racionais e Sociológicos da Música.Tradução,Introdução e Notas. Leopoldo Waizbort. Prefácio Gabriel Cohn.Notas p 80p85.







Marcos Moraes, prazer em conhecê-los!

Eu sou inquieto com os governantes corruptos.Indignado com as desigualdades sociais.Defensor implacável do meio- ambiente.Árduo Militante pela educação integral e inclusiva.

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